Ivan Maia




Ivan Maia de Mello é poeta, ator e Mestre em Filosofia pela UERJ, onde defendeu a dissertação A autocriação de Zaratustra, professor de Filosofia na Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, na Faculdade Metropolitana de Camaçari, no Colégio Anchieta e doutorando em Educação na UFBA. Em 1992 criou o Espaço de Cultura Libertária, em Recife, onde coordenou intensa programação cultural que incluía o evento semanal Sopa Caraíba de recital poético performático assim como o evento itinerante Poesia na Praça, aos Domingos nas praças da cidade, o qual foi adotado em 2000 pela Prefeitura da Cidade do Recife. Foi editor do zine poético Folha ao Vento (1992), da coletânea de poemas Palavra Nômade (1993) e publicou o primeiro livreto de poemas em 1993 - A Semente Precoce , o segundo em 2000 - Vibrasons dos Sonhos. Teve poemas publicados na coletânea Marginal Recife v. 4 (2004) e em vários jornais literários, entre eles o Proesicanteatroz (PE), o Balaio de Gatos (PE), os Escrachados (RJ) e SOPA (BA).
Teve seus poemas encenados pelo grupo de teatro do SESC-Santo Amaro (PE) e em programa da TVE - Documento Nordeste, além de participar do vídeo Os Antropófagos (TVU-PE) e de programas do canal Futura, Assinando a Língua, interpretando seus poemas, do canal Saúde da Fiocruz, do programa Opinião Pernambuco (TVU-PE), assim como do evento CEP 20.000 (RJ), além de programa especial (em 2006) da TV do Poder Legislativo de Salvador sobre sua poesia, chamado Câmara in verso. Em 2007, teve 9 poemas publicados em coletânea organizada pela Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública. Desde 2000, pratica Contato Improvisação, estilo de dança contemporânea, realizando performances poético-dançantes.


Fonte: enviado pelo autor







Enquanto dormem os mendigos
Ivan Maia




Sim! Quero amar até morrer!...
E aquela sede que havia, sorvida num só gole
Engolirá os homens e não as flores
Estranhará o deserto, dos toques no corpo
De quem disser amor sem ter no gesto a alma da palavra
Enquanto dormem os mendigos
Pediremos aos céus esmolas de brilho
Que façam acordar nossos sonhos
E sirvam de adeus ao medo!
Ah! Já não estou cabendo nos limites do que tenho sido...
Transbordante, prestes a derramar-me sobre as pessoas...
Precisando alcançá-las... me escapam os gestos...
Há um grande desejo em mim de morrermos todos
E nascermos todos num mesmo momento!
Sairei por aí imaginando sustos, escândalos
Ousadias que nenhuma sobriedade autoriza:
O corpo pronto para sangrar em palavras
Reunindo amores e dores num só corpo a debater-se
Explodindo em estilhaços virulentos de expressão atroz
Que cada um levará para casa, pro sonho
Nas entranhas de si.








Flor do asfalto
Ivan Maia





Poesia!... Te queria nua, como na palavra flor...
E mesmo que eu dissesse flor, fezes, fogo
Ainda não estaria inteiro
Em tua beleza, degradação e incêndio!
Que a poesia tem disto:
De escapar, de esconder-se
De sair pelo mundo carregando no peito
Algo de tempestade, vulcão ou maremoto
Pronto a inundar a praia espumante
De quem quis ser dono do azul do mar
Lançar-se na paixão rebelde
Antes que a terra se abra em fendas
E a gente afunde sufocando amores...
Fazer do sonho a matéria orgânica!
Onírica em versos de paixão-mulher
Diluição da infância que se faz vento
Pra soprar levezas de um lirismo-pássaro
Até voar!... E voar com olhos bem abertos
Sendo a ave de rapina daquela gente podre
Que não sabe da merda o que ela tem de estrume
Pra fertilizar o solo das nossas paixões
E comer...e comer teu corpo
Em tudo que nele se faz desejo
Na cor da pele, dos olhos ou da blusa
O mesmo blues que nos leva à dança
Pois amor faremos sob o céu
Sob o sol e a chuva que nos molhar
Liberando um cheiro no ar
Quando somos mata úmida a secar
Pois era flor o que se abriu em chamas
E se lançou do esterco de um solo fértil
Reunindo fogo e fezes numa bela flor
Encontro de pétalas e olhos através da cor
Colorindo a vida de quem quis poesia...







Libertário
Ivan maia




O poder
O poder opressor
O poder autoritário e mais nada!
As flores que eu quis cantar, não:
O poder arbitrário.
O que diz tudo, para que você não saiba
Nem de si, nem da fome
O que some, depois de lhe deixar a pão e água
Ou novela e voto, álcool e açúcar, medo e lei...
Este que sorri o tempo todo como uma caveira
Tomada das mãos de Hamlet
Para que não haja dúvidas
Sobre tantas verdades-prédios, estátuas-discursos
E notícias de cidades desabando sobre mim
Sobre o que sou e sinto
Quando não temo a morte
E descubro enfim um novo Norte
Inventando flores, amores e poemas
Pra dizer que sempre saberemos sonhar
Com uma vida plena na Terra.







Radicalmo
Ivan Maia




O medo é o maior traficante de preconceitos!
- Ei, rasta... O que restou da erva
Que nos livra de tantas drogas?
Que droga de vida humana é essa
Que espalha miséria em toda parte?
Que Justiça miserável...
Que não prende senadores
E continua a superlotar presídios!...
Pobre preto pedinte...
Com a língua travada pra se dizer gente!
A cola do sapateiro anda solta por aí
Com os pés descalços do abandono
Seu corpo é a esmola que a cidade dá
À população dos ratos, vermes e micróbios
Apesar de seu ar pesado
Que não se vê livre de tantos esgotos e insetos
A favela ao menos é uma prisão ao ar livre....








Manguerreiros
Ivan Maia




Tudo é muito mais forte
Que a história dos homens
Em seus movimentos presos
Pela ânsia mesquinha
E não me agarrarei, nem seremos contraponto
Para o afeto mais livre que a vida inspira
Toda coragem é pouca
Se não acende a chama do amor
Há muitos dejetos a serem tratados
E a cidade captura o desejo
Que não se afirmou perante a morte
Esqueceremos a palavra rio?
Temos esgotos suficientes pra isso...
Mas a vida grita nos manguezais!
Grita nas avenidas
E quer as pessoas cantando juntas
Tudo que rasga a noite com um raio
Açoitando o tempo com o chicote da libertação
Despertar urgências
E incomodar o sono dos hipócritas
Os filhos do vento, irmãos da ventania
Dançam sua vontade de correr mundo
Distribuindo os frutos da criação
E nada os impedirá de pintar a vida
Com todas as cores que a terra lhes deu






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