Otávio Vila Nova






Otávio Tenório Vila Nova (poeta, guarda-livros e correspondente da cidade de Canhotinho), nasceu em Bom Conselho-Pe em 1901. Filho de Mariana Benevides de Menezes Vila Nova e Antônio Propício Tenório Vila Nova.Saiu de sua cidade natal aos 8 anos de idade com sua mãe e seus cinco irmãos(Zélia, Aoda, Jorge, Das Dores e José Maria.)

Sua mãe,  resolve abandonar o casamento com seu pai e vai em busca de uma vida melhor na cidade de Canhotinho-Pe onde lá tem parentes.
Fazem um percurso de Bom Conselho-Pe até Canhotinho-Pe em um jumento, em que a mãe os coloca em "caçuares" a serem transportados, passando pelas cidades de Brejão, Garanhuns, São João, Angelim.

Otávio, por ser o mais velho, assume a responsabilidade da casa, começando muito cedo a trabalhar. Aos seus 8 anos, carregava potes dágua na cabeça para ajudar as senhoras da cidade a abastecer suas casas. Também ganhava um trocado à espera do trem, carregando as bagagens dos viajantes.

Quando menino,teve como professora Dona Ester Rocha e, já casado, formou-se por correspondência em guarda-livros(aquele que exerce as escritas comerciais de uma cidade.)

Otávio, que diziam ser um galanteador, conhece uma moça e apaixona-se profundamente, Nair Barroso Vila Nova.
Otávio vai até a casa de Nair em Alagoas pedir sua mão em casamento. O pai de Nair diz aceitar, mas depois que Otávio se retira, ele manda sua filha Nair escrever de imediato uma carta terminando o noivado. Inconformada, escreve outra carta, desfazendo o que o pai havia lhe obrigado a escrever. Os dois não tendo mas solução, resolvem fugir e casar de qualquer maneira, mesmo sem as bênçãos do pai.
Tomam como destino a cidade de Canhotinho-Pe, onde Otávio já tinha sua vida firmada.
Casam-se na igreja católica de São Sebastião , por Nair ter apenas 17 anos e seu pai não aceitar assinar os papéis do casamento civil.

Tiveram cinco filhos( Nailda, Aderson, Adalberon, Otávia e Nailze).

Em 1964, muda-se com sua família para a cidade de Recife-Pe onde ainda exerce a função de guarda-livros por pouco tempo, aposentando-se logo depois.

Em 1981, em Recife-Pe, falece aos 80 anos deixando suas poesias a toda sua geração posterior. A que se dedicou por toda sua vida, pois para qualquer motivo escrevia mais um verso... Poesias essas, em sua maioria, compostas por mote e glosa.

A seguir, algumas poesias daquele que costumava dizer: A VIDA É BOA! É MENTIRA DAQUELES QUE DIZEM QUE ELA NÃO PRESTA.

Fonte: Cecília Villanova( neta de Otávio).



















Máquina de escrever de Otávio Vila Nova



A seguir poesias do poeta




Mote:

Num saudôso pensamento
Eu te envio o meu afeto.

Glosa:

Nair, o teu juramento,
Teu juramento dileto,
Faz crescer o meu afeto
Num saudôso pensamento;
Nosso amôr, nosso tormento,
Nesse tormento secreto,
Num pensamento direto
Eu irei te consolar,
E para a dor amenisar -
Eu te envio o meu afeto.

Otávio Vila Nova

Canhotinho, 16 / 08 / 1928.




Mote:

Se existe espelho d'alma
Teus olhos são dois espelhos.

Glosa:

Divino olhar que espalma
Dos cílios, tão bem feitinhos,
Tão sedosos, tão negrinhos,
Se existe espelho d'alma
O meu coração se acalma,
Mas, não me farto de vê-los
E se pudesse escondê-los
Juntinhos do coração
Pois tão lindinhos que são
Teus olhos são dois espelhos.

Otávio Vila Nova

Canhotinho, 31 / 08 / 1926.




Mote:

Tua roseira morreu,
Não temos mais uma flôr.


Glosa:

Alí mesmo ela viveu,
Desde que alguém a plantou,
Entre carinho e explendor,
Tua roseira morreu,
Não sei para que viveu
Tão bela e cheia de odor,
Mas a vida é mesmo assim,
Naquele humilde jardim,
Não temos mais uma flôr.

Otávio Vila Nova

Canhotinho , 08 /05/1963




Mote:

O amor que menos custa
Custa a saudade que deixa.

Glosa:

Quando o coração se ajusta
Um amor sem veleidade,
E quando não há maldade
O amor que menos custa,
Mas se a ele se ajusta
Não há razões para queixa,
Por outro lado se deixa
O amor que mais se quiz,
Não custa nada se diz,
Custa a saudade que deixa.

Mote de Aderson Vila Nova
Glosa de Otávio Vila Nova

Canhotinho , 1952.




DIANTE DO ESPELHO

Como estou velho, Tereza! Jamais pensei,
Nos longos anos, que se fôram enfim,
Asneira papaisinho, o que de certo sei,
É que tudo na vida se transforma assim.

Fui moço e feliz, quanto prazer sentia,
Ria de tudo e de todos, ninguém ria de mim
Na velhice de muitos, uma sombra eu via,
À linha retilênia, que nos leva ao fim

Tudo fôra ilusão, na minha mocidade,
Aquele perfil de poeta, em plêno alvorôço,
É de tristeza agora a revelar saudade!...

_ Saudade do que fui, tristeza do que sou,
Troco pela velhice, sonhos da mocidade:
Como FILHO, como PAI e como AVÔ.

Otávio Vila Nova

Recife, dez. 1970.





MORTA

Sonhei que estavas morta, inerme nos meus braços,
Com a face seductora pallida e sombria;
E que eu a te beijar profundamente fria;
Sentia o coração desfeito em mil pedaços.

Sonhei que estavas morta e que os estreitos laços
Da conspicua paixão que a nossa vida unia,
Tudo em descrença e dôr de vez se convertia
Quando eu te contemplava morta nos meus braços.

E eu, delyrando, louco e quasi já sem vida,
Esperava o momento acerbo da partida
Do teu corpo adorado, pallido e bemdicto.

E partiram comtigo...E tremulo e chorando,
Cravando o olhar nos Céos e a soluçar resando,
Eu te via subindo ás plagas do Infinito.

(Otávio Vila Nova)
*Soneto publicado em um jornal de Canhotinho na década de 20 do século xx.





OLHOS NEGROS
(Para quem tem os olhos tão bellos)

Olhos negros e engraçados, vós sois o mar de meus desejos;
Olhos negros e divinos, vós sois o amor de minha vida;
Olhos negros e feiticeiros, vós sois os accordes inspiradores dos poetas;
Olhos negros e brilhantes, vós sois dois pharaóes, que me guiam na estrada densa da noite;
Olhos negros e luzidios, vós sois duas estrellas scintilantes e bellas;
Olhos negros de carvão, vós sois dois pontos negros, evocando o Amor.
Emfim, olhos negros, vós sois duas contas divinas do rosário de Maria,
Onde eu réso inspirado com devoção e AMOR.

Octávio Vila Nova, Canhotinho, 06-09-1928.





A PUREZA DE UM CRAVO
(Para Z...)

De todas as flores, foi o Cravo, a que a natureza dotou de mais pureza e harmonia.
O Cravo, tem supremacia á todas as flores; é o rei perfumado do jardim de minhas ilusões.
Um dia u’a mão santa de mulher, poz na lapella de minha veste branca, um cravo, que traduzia saudade e amor... Neste instante, meu coração abriu-se como um sacrário, para receber essas duas outras flores perfumosas, que me inspiravam felicidade. Nasceu-se uma paixão louca e um ardente desejo de amar a todas as flores.
Guardei o cravo branco, como uma pérola divina, mas elle teve a vida d’um instante; logo emmurcheceu cheio de saudade e poesia!...
Resta-me do cravo, algumas pétalas resequidas, as quaes guardei no recinto dum velho
Manuscripto, em memória daquella, que abrindo e fechando meu coração, jogou a chave no mar profundo da ilusão, para não mais ser encontrada.

Octávio Vila Nova, Canhotinho, junho de 1928.





A SEGUIR, ALGUNS TEXTOS JORNALÍSTICOS DO POETA OTÁVIO VILA NOVA PUBLICADOS EM JORNAIS DA REGIÃO NA DÉCADA DE 20 DO SÉC.XX
TODOS OS TEXTOS AQUI PRESENTES ESTÃO DE ACORDO COM A ORTOGRAFIA DA ÉPOCA".



PORQUE UMA CIDADE SE VAE TORNANDO DECADENTE

"Das cidades do Nordeste brasileiro, Canhotinho é provavelmente a que prima pela má organisação.
Todas as cidades visinhas, villas e povoados, vão progredindo dia a dia; emquanto Canhotinho se vae atrazando cada vez mais.
A vida material, social e commercial de Canhotinho, é digna de proteção.
O nosso extremo atrazo é admirado por todos os de fora, que ás vezes por fatalidade, nos chegam a visitar e nòs mesmos, que conhecemos de perto o extremo despreso em que vivemos e a necessidade que temos de novos dirigentes para os destinos de nossa terra.

Eu não me refiro a este nem áquelle; mas não deixo de lançar as visitas, sobre
Os que têm nas mãos os destinos do nosso rincão adorado.

Cheguei muito creança para esta terra e desde então, comecei a comprehender nossas necessidades.
Naquelles tempos as cousas corriam melhor; tínhamos mais Vida, mais Harmonia, mais Liberdade e havia menos Egoísmo menos Ociosidade, a política, era mais bem organizada e os dirigentes, tinham mais iniciativa...
Hoje, pobre Canhotinho! Parece “a cidade que esqueceu á Deus,” apezar dos impostos municipaes, terem se elevado tanto.
Oxalá que um dia os governos cuidem mais de nossa desprotegida terra!"

Octávio Vila Nova, Canhotinho, 19- 02-1928.





CONCORRENDO PARA A NEGLIGENCIA

"Nossos campos, apezar de tão agrícolas, nos trazem quasi sempre necessidades tremedas. Ultimamente muito temos soffridos com a alta da farinha de mandioca, que està sendo vendida pelos preços exhorbitantes de 6$000 e 7$000 pelos 10 kilos.
O rico ostentoso, o creador egoista, o fazendeiro imperador dos nossos campos, nada soffrem com estas alterações; nem tão pouco se compadessem das necessidades alheias.
De qualquer fórma, o páo só vem a quebra-se nos costados do pobre infeliz, que para não morrer a fome, vae de enxada ás costas dar um dia a Seu Coronel, pela insignificante quantia de 2$000 minguados, que mal dão para o sustento de seus filhinhos e de sua mulher.
Conheço aqui, muitos homens, dedicados ao trabalho, que se sujeitam ao alugado porque não têm terras onde possam trabalhar. E’quasi inacreditavel, porem é um facto.
Os grandes, dia a dia com o seu tremendo egoismo vão tratando de cercar leguas e leguas de nossos campos agricolas, obrigando assim, aos pobres a se desapossarem daquillo que lhes pertencem e como “a força maior combate a nemor” elles, os pobres, vão sedendo por pouco mais ou nada os bens, que lhes servem de arrimo.
Quando procuram arrendar uma tarefa, só a obtêm nas condições de colher as primeiras lavouras, entregando o resto do que é seu ao gado do Major, que se apodera insaciavel. Alem de tudo isso, há ainda os fòros, que forçosamente o infeliz, tem de pagar, sabe Deus como...
O Estado, muito està perdendo com as irregularidades dos senhores creadores fazendeiros, que procuram cercar nossos campos agricolas, privando os homens do trabalho.
O nosso governo deveria tomar medidas severas a esse respeito, evitando que os nossos homens serviçaes caiam de braços abertos á neglicencia.
Para isto, estão sendo forçados..."

Otávio Vila Nova, Canhotinho, junho de 1928








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